Logo depois que comprei a passagem para o intercâmbio na Califórnia, em Outubro de 2018, comecei efetivamente a organizar minha viagem. Dentre os itens da lista, além de cidades a visitar, lugares a conhecer, compras, tinha lá: qual empresa do Vale do Silício vou visitar internamente?
Preparei quase um plano de ação para isso. Olhei pessoas na minha agenda, pesquisei contatos nas mídias sociais, falei com amigos e, ao mesmo tempo que uma porta abria, ela fechava. É muito difícil ter acesso a estas empresas. Para entrar, é preciso ter um amigo que lhe recepcione ou alguém que queira lhe receber, fora que conseguindo entrar, não podem ser feitos registros. Estamos falando de empresas mundialmente conhecidas e as informações ali tratadas são confidenciais, não são um parque turístico. Os profissionais que lá estão, além de muito assediados por visitantes, também são importunados por empresas que tem interesses comerciais fazendo diversas ofertas e propostas a todo momento. Mesmo com tudo isso, a princípio estava despreocupada, achava que ainda tinha 4 meses pela frente e que seria tempo suficiente.
Os meses passaram, várias coisas da viagem se organizaram e nada de receber um ‘sim’. Chegou Fevereiro de 2019, malas prontas, vôo confirmado e nada. Começou o intercambio… Primeira semana, segunda, terceira, quarta e tudo igual.
Chegada a quinta e última semana, passagens compradas para San Francisco, lá fui eu passar 4 dias da minha última aventura. No primeiro dia já fui me ambientando com a cidade, achei elegante, charmosa, nas ruas vi uma mistura de clássico com moderno. Após o primeiro dia de tour (incrível por sinal), ao chegar no hostel, fiz o roteiro final do dia seguinte, eis que era chegada finalmente a hora de conhecer o Vale do Silício.
Acordei já com o roteiro nas mãos e, pé na estrada. À medida que visitava as empresas e só conhecia por fora, achava tudo legal, mas queria entrar, ver alguma coisa, a ansiedade só aumentava. Quando o dia foi acabando e o roteiro chegando ao fim, além da felicidade de ter conseguido chegar tão longe, tinha também a frustração de não ter concluído meu objetivo. Fui dormir feliz, mas não realizada.
Levantei no dia seguinte triste, com dor de cabeça, sem animação para um novo roteiro. Até que surgiu uma dúvida, já tinha aceitado que não conheceria nenhuma empresa internamente, quando mandei mensagem para Wesley, brasileiro de Maceió e, executivo do Facebook. Conheci ele por indicação de uma amiga e já havia enviado mensagem anteriormente falando sobre a possibilidade de me receber. Recebi gentilmente um não e com isso evitei insistir. Além de executivo, é muito conhecido e respeitado na área, para quem é da época do Orkut, foi ele que trouxe o joguinho ‘Colheita Feliz’ para o Brasil. Visionário, tem grande participação no mercado, o seguia por gostar de seu trabalho e pelas indicações de leituras sobre neurociência, assunto este que ele domina.
Voltando para minha saga, enviei mensagem para ele logo de manhã, neste momento como falei, já tinha aceitado a situação e a intenção nessa hora era para falar sobre estratégias, marketing digital, não tinha mais o foco de pedir para entrar, não mesmo. Enquanto falávamos sobre internet e mídias sociais, ele começou a me perguntar que dia eu iria embora, se estava em grupo e de quantas pessoas, onde morava e em que local tinha nascido. Quando respondi às perguntas e falei que era de Salvador, ele disse: “Então considere que sua raiz nordestina te deu isso. Eu posso te receber umas 4h aqui, na 100 Independence Drive, Menlo Park. Daí te mostro um pouco do Facebook por dentro.”
Eu olhava para tela do celular com os olhos arregalados e não acreditava no que lia. Nesta hora estava no quarto do hostel e não podia gritar, pular, comemorar, quer dizer, fiz tudo isso “sem som” e tentando me movimentar pouco, afinal, era um beliche e eu estava na cama de cima…
Passado o momento de euforia, cheguei ao endereço combinado ainda sem acreditar direito, mas plena e pontual. Assim que entrei lá fiz um cadastro e assinei um documento de confidencialidade, fotos em hipótese nenhuma. A política de sigilo é séria e precisa ser respeitada. Com isso, darei um panorama geral de como foi. Pretendo voltar um dia, né?
Chegando lá tive a nítida sensação de que estava em um grande condomínio. Os prédios são isolados por uma área aterrada, o que sugere ampliação das unidades. A possibilidade de registros, se concentra na entrada com o ‘thumbs up’ e é bastante disputado. Os prédios são coloridos, mas misturados a cores neutras equilibrando e dando um charme ao local. Bikes azuis para todos os lados, funcionários e restaurantes dos mais variados. Lojas de conveniência, sala de música, de jogos, academia, quadras, tudo oferecido gratuitamente. A empresa oferece para equipe transporte até uma distância de 2 horas do local de trabalho, tornando possível que pessoas que moram mais distante possam permanecer em suas cidades e trabalhar em Menlo Park.
Lá vi também muito trabalho, reuniões acontecendo nestes ambientes e profissionais com notebooks e smartphones passando concentrados. Eu, nesta hora, estava conversando com Wesley enquanto tomava sorvete de chocolate com um monte de m&m’s por cima. Super à vontade.
Passei pelos escritórios, o que posso dizer e que achei interessante é que todos os tetos são sem forro, ou seja, toda a parte elétrica e hidráulica é aparente. Quando perguntei porque, a resposta é que foi planejada desta forma para que sempre que um funcionário terminar um projeto e achar que ‘acabou’, olhar para cima ter a sensação de que ainda tem muito o que fazer.
Outro aspecto que achei importante, é que Mark Zuckerberg se comporta como mais um colaborador, trabalhando até mesmo junto aos demais. Inicialmente sua mesa era mais central, só que devido ao assédio dos visitantes e de alguns funcionários, ele passou para um local mais reservado. O clima de vaidades, egos, cargos e benefícios eu não percebi. A ideia é de uma empresa que possui uma equipe e que todos, cada um no seu papel, somam para alcançar objetivos em comum.
No final da visita, passei por uma loja em que são vendidas lembranças de algumas marcas do grupo, como: Facebook, Instagram, Whatsapp e Oculus. Fiz algumas compras e aproveitei a oportunidade para levar lembranças deste dia que profissionalmente, foi muito importante para mim. Sobre a loja, não tenho certeza, mas tudo indica que a verba com a venda dos produtos são destinados a ações sociais promovidas pela empresa, o que faz toda a diferença.
Quando terminou o dia, fui para o hostel com a certeza de que naquele momento, poderia sim voltar para casa e retomar a minha rotina. Estava voltando com a bagagem cheia de conhecimentos e experiências, valeu muito a pena tanta dedicação e investimento. Pretendo voltar, afinal, muita coisa ainda precisa ser explorada por lá! Não é verdade? ; )
Priscyla Caldas
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Abaixo algumas imagens do primeiro dia em que fui visitar a sede, somente por fora e no segundo dia quando fui conhecer internamente (autorizadas).
Primeiro dia
Segundo dia